solidão

Hoje, conversando com Elaine Farias, uma querida ex-aluna lá de Itabuna, dos tempos de ACE, realizei que na verdade, estou me sentindo só. Já andei muito, já me mudei demais, já perdi contato com amigos queridos, e, talvez, já tenha perdido muitos pra sempre nessas andanças.

Bem, o blog surgiu com a finalidade de ser um diário, certo? Então vou criar coragem, agora neste instante, para fazer deste blog um diário/literatura para self. Imagina se espero leitores... estou mantendo este blog para mim mesma, só deixei aberto ao público por um lapso de self awareness que me ocorreu um dia desses. Mas Lígia, que está mantendo minhas contas de forma bem mais eficiente do que eu jamais poderia, nesses dias de ibernação solitária, me diz que já alcancei uma marca bem alta de leitores. Vou pedi a ela mais informações.

Imagino que seja esta a solidão, sobre a qual meu guru acadêmico falou tantas vezes, em nossas conversas sobre seus preciosos livros, logo ao alcance das mãos. Tenho fotos de suas mãos, vou procurar e postar aqui. Sei que me sinto só, mas ainda não sei explicar. Nunca antes havia parado para pensar sobre os diferentes tipos de solidão.

Sinto solidão de família. Em inglês penso que podería dizer, I feel homesick. Talvez esteja perdendo um pouco da minha habilidade com o idioma inglês. O prolema é que não sinto vontade de estar com a família. Não neste momento. A necessidade que sinto agora é outra. Um paradoxo? Interessante como eu pareço estar jogando com a linguagem, como nos paradoxos apresentados por Hofstadter no GEB.

Meu comportamento de anti-musical em relação à família deve assustar alguns, no entanto, para alguém que se tornou adulta longe de qualquer influência familiar talvez me entenda bem. Sinto falta de Otávio, de seus livros, de seus alunos, de ser sua aluna, mas naquele ambiente, mesmo que naquele tempo, entre 2007 e 2009, coordenando e ensinando num curso que deixava aos poucos, mas não deixava de amar, sentindo rasgar a pele em todos os sentidos, aprendendo a amar de diversas formas ao mesmo tempo, aprendendo a odiar, aprendendo a aceitar, a compartilhar, a cuidar e, especialmente, aprendendo a ser cuidada. Dois anos incríveis, que me prepararam bem para um mestrado na PUC-SP e hoje, vivo enfrentando tudo que procurei evitar durante toda a minha vida adulta. A agitação de uma cidade grande!

Durante toda a minha adolescência e vida adulta tenho buscado incessantemente alguma coisa que jamais encontrara, até agora. E é este lugar, este lugar de leitura. Um nível de compreensão que jamais tive. É maravilhoso ler e compreender livros acadêmicos de grandes mestres. Uma experiência que tenho saboreado vagarosamente, procurando sentir todos os ingredientes do prato que demorou tanto a chegar.

Me sinto ótima hoje, sentada aqui neste espaço delicioso que nos acolheu (compartilho o apartamento e a vida com outra pessoa) em São Paulo,  olhando pra o jardim que cultivo com minhas próprias mãos, bem no baixo-centro paulista. Nunca imaginei que um dia moraria num lugar assim. Nunca gostei do centro de cidades grandes, do barulho, das cores acinzentadas dos prédios, do cheiro de urina nas entradas do Metrô, da  decadência das fachadas, do fazer parte da multidão... e olha onde estou! Mas, depois de minha primeira volta de reconhecimento nos dois quarteirões entre as ruas Sta Isabel e Marquês de Itú, com dois anos de atraso, descobri que poderia morar aqui minha vida inteira, com longos intervalos ensolarados pelas praias de Ilhéus, é claro.

Nenhum comentário: