1 conto: O futuro do pretérito

O futuro do pretérito

Ele vai, volta, quase bate na porta, ensaia algumas palavras de ódio, vem à porta novamente, desiste. É sempre assim quando minha TV está com o volume alto lá na sala. Observo todos os seus passos pela câmera escondida na entrada. Meu vizinho é um louco, óbvio. Não tenho dúvidas, preparo o veneno caseiro que andei testando nos gatos da Matilda - Solitário que é, o  corpo dele será encontrado uns dois dias depois pela faxineira... Nem mesmo o risco do corpo putrefato incomodando.
Os gatos todos mortos, me livro de todas as substâncias, menos da quantidade necessária pra matar um homem com o dobro do seu tamanho, só pra garantir. Levando em conta seu peso e altura, calculo que se vá em trinta minutos, no máximo. A oportunidade se apresenta - nos encontramos no elevador, ele puxa assunto, reclama do barulho, eu o convido pra ver a posição das caixas de som. Ele morde a isca. Sirvo-lhe "o suco"; vou à cozinha e volto momentos depois com o copo do Pedro. Me deparo com aquele filho da puta, inocentemente dividindo seu suco com meu filho de dois anos. Em pânico, disfarço e brinco, que também quero beber do mesmo copo... que parece muito bom... Mas, já então, Pedro dizia sua primeira e última palavra...  ‒ Cabôôô!   

*Meu primeiro conto, logo depois da aula do Fábio Fernandes, ontem.  (revisão da genial Lúcia Máximo)

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